LÁ FORA À NOSSA ESPERA



Salgo-te o gosto de olhar a vida

NO COMMENTS

Nos segundos em que o olhar de estranhos se cruza, no dia-a-dia, pelas paragens da vida, na correría do combóio perdido, fica um rasto como uma pincelada na tela de um impressionista.
Não se entende o que aconteceu, por vezes um quase mal-estar, a direcção do pensamento sempre a voltar ao mesmo ponto de encontro...
Foi aqui que vi aquele olhar, foi aqui que me cruzei com um homem, com uma mulher de que não lembro o rosto mas sempre recordarei a faísca de nos termos visto, como se nos conhecessemos, como se nos tivéssemos esquecido de algum dia ter-lhe dito alguma coisa tão importante, tão importante que não podemos voltar a dizê-la.
No tempo incontado desses segundos há uma eternidade. Uma nebulosa vontade de corrermos para esses olhos e gritar que achávamos que os tinhamos perdido de vez.



Um olhar de estranhos cruza-se. O mundo mudou neste instante. Já não se lembram mais.

RETRATOS


Eram tantos. Ameaçadores pela penetração. Ali, sem despregarem nunca, fortes, um imperativo que obriga a fixá-los e no entanto, levam a desviar o rosto pelo pânico de arrancarem a roupa até ao avesso da alma.

AFUNDO-ME NOS TEUS OLHOS



Atiro-me de cabeça nesse mundo azul. Aquoso. Infinito como o céu. Nado nas profundidades de não lhe conhecer o tamanho, pés sem apoio, livre para sonhar. Invento estórias para me sentir bem em que tudo acaba bem.


Quando regresso vejo os teus olhos.
Sinto um rubor pela vergonha de saberes...

DO OUTRO LADO



Estatelo-me neste filme aquoso de me passar para outra dimensão em que penetro corpo para além da liquidez dos sentidos. Aproximo essências até segregar fluidos de mim mesma no entendimento do que sou. Faz-me doer. Especialmente quando me olho nos olhos e na vertigem do reflexo vejo outras almas que não a minha. E no entanto só a minha cá mora, reconheço-lhe o perfil, as manias, as tendências de me atravessar para qualquer outro lado ao escusar-me ser vista como os demais. Os demais são o que os olhos vêem. Por isso não me quero ver.

JANELAS


Não posso mostrar!
O resto sim, os seios, o sexo, a posição das mãos e até o jeito da boca se molhar quando quero alguma coisa.
Agora os olhos não!
São as janelas para dentro de mim. Há que ter algum pudor, há que se ter alguma intimidade.

FRAGMENTOS


Depois de te afastares a única coisa que terás para me recordar serão bocados, fragmentos de todos os olhares que te ofereci nos momentos em que juntos vimos o mundo do mesmo tamanho.
Serão flashes que te cegarão pela surpresa de naqueles instantes não lhes teres achado o peculiar de assim serem porque estava contigo, tanto dos sorrisos repuxados como das lágrimas que te colei no rosto.
Tentarás lembrar-te de frases e situações mas nada disso voltará e até o som das palavras parecerá um zumbido, uma confusão para ordenar o quando e o porquê.
A dizer que eu estive contigo, só mesmo o que os meus olhos te deram nas noites de amor ou nos dias de passeio filtrados nos caramanchões de latadas de uvas por um sol glorioso. Hás-de perguntar porque não choro agora que te vais... já não tem importância, esses rios correrão sempre que me segurares em fragmentos.

SEM O OLHAR

De que serve a melhor máscara se por detrás não há rosto que a encha?
Se para além da cerâmica branca e polida se encontra o espaço que devería ser iluminado pelo olhar que faísca sob o mistério de se esconder a mais o rosto todo o sal que condimenta a intenção de se oferecer esse gesto breve e intenso de pestanejar num sim e cerrar no nunca?
Que importa a beleza da mascarilha se as lágrimas se vertem noutros segredos e noutros cantos e até o cantor se esquece da ária?

O LAGO


Há quem lhe chame amor à primeira vista.
Nunca fui romântico, pelo menos não me acho assim, prefiro pensar em beleza, sabem, uma daquelas obras belissimas que estão no museu e só de as olharmos entendemos perfeitamente a solenidade e a razão de lá estarem.
Pois foi isso que senti mal bati os olhos nela. Uma quase vontade de me ajoelhar e ficar contemplativo até sentir a bebedeira dos sentidos vergar-me pelo dominio do que é superior.
Sei lá... os olhos dela parecíam lagos. Daqueles de fundo cristalino que dá para ver tudo até ao fundo macio de areia fina...
Há quem diga que foi amor à primeira vista... Não sei, só sei que me afoguei na liquidez daqueles olhos e do que parecía um espelho de água até hoje debato-me para que a água não me encha os pulmões...

O Nº 15

OLHAR nº15
Dizem, Dizem, Dizem, Dizem, Dizem, Dizem, DIZEM Dizem-no Pedaço, Pedaço, Pedaço Dizem-no PEDAÇO de mau caminho... OLHOS de CAMA CAMA CAMA CAMA CAMA

LEMBRAR



De tudo do todo do mundo e da vida só quero o que é belo.

Mandei tatuar nos meus olhos esses instantes fugazes.

Assim não me poderei esquecer de um dia aqui voltar.

SUSTO


Engoliu a saliva a custo, travou a respiração, mandou o coração parar de bater, imobilizou a vida do corpo.
Traída, de nada lhe valeu a imitação pela morte.
Os olhos gritavam.

NOCTURNO


Chega esse nocturno OLHAR e das trevas só hstórias medievais fazem sentido quando assim me olhas.

GUARDAR-TE


Congelei o olhar em ti.

Assim guardo-te sempre.

Em todos os momentos.

Mesmo naqueles em que não estiveres.

Enchi os olhos do que te quero.

E fiquei plena.

O ESPELHO



Vejo-me mulher num tempo desencaixado do meu. O espelho só me devolve o seu reflexo intranquilo, uma outra que exala vontades mais determinadas do que as que tenho poder para realmente excutar.


Olho esta mulher e reconheço-lhe no brilho dos olhos batalhas onde pelejou fulgurante. Talvez a minha força se tenha exaurido nesses campos fora, à força de tanto olhar.


Olho-me... O OLHAR também se gasta?

THE LOOK


- Oh Red, Red! Kiss me, Kiss me!
It's the look of love...

RELANCES DUM DIA

Os olhos da madrugada descerraram-se muito devagar. Afinal doía sempre um bocadinho nascer todos os dias, era quase como tirar a pele lentamente, esfolar a noite.






Sentía-se fumegar a terra a brotar noutras vidas, um cortejo que acompanhava o ritual na nobreza do momento alongado. Logo de seguida um som de casca a estalar, era chegada a altura dela se espreguiçar na plenitude do seu acto.


Por vezes chorava, emocionava-se. Muitos acorríam a esses pingos cristalinos e mágicos que dobravam o tamanho das coisas, sabíam do instante, tão lentamente aparecía tão rápido se escapava à vista dos outros.


Logo, logo o dia substituiría a bela madrugada e desse relance poucos se recordaríam.

...


Dói-me tanto, mas tanto que era capaz de chorar palavras...

OLHAR VERDADE

Mais do que todas as coisas que me possas ter dito e que sei que algumas são verdade, os teus olhos nunca se sentiram capazes de acompanhar o som das mentiras que dizías lenta e pausadamente no engano (teu, claro) e que achavas que eu inocentemente bebía como uma água que se toma com muita sede.

Os teus olhos sempre foram como o mar.

Também são água mas não dão para beber.

Corre-se o risco de se sentir a boca molhada mas depois vêm as alucinações pela solução salina e é o diabo.

Tal como a tua boca convencida... falavas, falavas. Se eu fechasse os meus olhos sem arriscar-me nos teus piamente acreditaría na tua boca.

Diabo! Os teus olhos sempre me tentaram mais que qualquer discurso bonito!

Era só seguir os sinais.
E ver a mentira a desfilar.

ABRE!!!



OLHAR Nº 5











OOOOOOOOOOOOOOOOO











OUVE COM OS OLHOS

ORGASMOS


A tua boca aproximou-se da minha sem escape possível. Comeste-me. Toda. Senti a tua lingua a entrar-me, molhada, quente, muito quente, varreu-me os dentes, o céu da boca, as paredes da boca, enroscou-se na minha.
Eu fechei os olhos.
Vía-te a devassares o que de mim resguardava e isso de alguma forma foi-me dando a tranquilidade e sentido para me focar unicamente na tua lingua, senti-la a dominar-me, sempre quente e molhada.
Lascivia. Tudo de mim era lambido e sugado.
Mas quando abri os olhos e vi os teus disparados nos meus à espera da reacção não aguentei. Fixei-te e senti-me inundar.

DIMENSÕES

Há uma dimensão renovada no olhar dos que não têm medo.

Dos arrojados e puros de coração.

É preciso ver com o coração. Com a dentada que o coração dá nas coisas da vida.









A vida também nos morde. Se fugirmos com medo dela arriscamo-nos a perder olhares como o nosso podería ser.


É melhor ser mordido que ser cego toda a vida.


É que nem sempre no apalpar estão todas as cores.


É que nem sempre as cores são puras.


Há que inventar-lhes o condimento.

O FOTÓGRAFO



Era vaidade o que lhe maquilhava os cilios, profunda, quente, e nem por um momento o fotógrafo lhe desviou os olhos com o medo de perder o exclusivo de enquadrar na chapa um fogo rubro que o electrizava.

Ela de pose. Deixava-se ceder na longilínea arte de perfil.

Ele apurou o olho aberto, o outro ocupado no diafragma, uma pequena explosão de luz cega.

Foi quando ela o olhou e ele se sentiu fulminado a sépia.

MARIONETA

Fios.
Comandos.
Condições.

Água.
Sal.
Frio.

Ausência.
Invisível.





Chora em mim a emoção contida que me verte para dentro



Afogo-me.

TRESPASSAR-TE



Vejo-te pela fresta do coração

NÃO ME VEJO

OLHO-ME









Quando foi que o olhar se perdeu, o sal que condimentava as imagens da minha vida e me fazíam alargar a boca em sorrisos silenciosos se desfez numa água salobra sem razão?

Quando foi que desaprendi de cerrar o olhar, me esqueci dos rios de lágrimas que me brilhavam na cara e de te ver reflectida neles?


Quando foi que fiquei cego aos homens e às coisas e as coisas passaram a ser homens e estes tiveram pena de mim porque não me podíam ensinar o que eu esquecera?




OLHO-ME MAS NÂO ENCONTRO AQUELE QUE FUI.

FECHAR O OLHAR


Olhar que guarda outros olhos.

Olhos que se escondem ao mundo da troca de olhares.

Olhos que amedrontam para não se assustarem.

CATÁLOGO



OLHAR Nº 3

(SEJA LÁ O QUE ISSO QUER DIZER)

(MAS É UMA ARMA, ISSO EU SEI)

SECO

Havía no seco do vermute o nó que não fazía descer o que te quería dizer e no entanto, quase me engasgava, não saía, quería pedir-te para ficares mas não quería que sentisses que eras importante para mim.

Ficámos alguns minutos neste contacto visual, a dar golinhos de passarinho mas era mais o vidro fino do copo que eu sentía a entrar-me na boca do que o liquido. Até a saliva desaparecera e sentía os lábios a engelhar-se, pensei em humedece-los com a ponta da lingua mas temi que pensasses outra coisa de mim.


E de repente os dois! Sim, os dois a falarmos ao mesmo tempo, um atropelo de palavras que nenhum de nós entendeu!

Ainda bem. Pela minha parte. Eu disse-te FICA. Acho que não o ouviste...
Ficámos a tomar o nosso vermute. Seco, muito seco.


MÁSCARAS

OLHO-ME


OLHO-TE


OLHO-ME EM MIM








Pinto outro olhar para engrandecer o meu.

Pinto no olhar outro olhar.
Escondo o meu olhar.
Os meus olhos riem quando choro por dentro.

Desenho guerras no meu olhar, sou vitória.

BEBER O OLHAR


Falta tanto quando não se atinge o olhar.
Falta encontrar o fio condutor entre as palavras e a verdade dos olhos, a cor dos olhos e o silêncio da boca, o grito dos olhos e a mutez das mãos.
Mentem também os olhos?
Não o creio... Mas imitam a mentira, por vezes.