PREDICADOS

 
 
 
 Acho-me perdido numa cegueira contemplativa. O menor esforço adquire um espaço hérculeo na minha vontade mas não é preguiça, é observação para emenda de erros futuros, é embelezamento no teu olhar. Aprendo. Recolho finalmente o sabor do predicado ao [re]nascer e cristalinamente vejo o mundo pelo teu contar.
 

VER PARA CONTAR

 


Perdão por olhar e sobretudo ver as coisas nas palavras e estas sempre a quererem dizer tanto quanto os olhos, mesmo quando se cerram por terem visto belo ou muito feio e não saberem como fazer pela dor sem explodir em verbo ou no grito e chorar sangue e sal que arda até cegar.
 
Perdão, só abri os olhos porque o sol nasceu e eu lembrei-me que um dia havía de ser bonito de ver para depois poder fazer uso das palavras que me crescem na boca e contar a alguém o que vi.
 
 

ALÉM



 
Nada sabem os que dizem que tu és pedra, metal, coisa morta. Há mais olhar em ti que muitos dos que andam e correm. Há mais além em ti do que os de olhos abertos nada veem, nada miram, nada choram quando o sol nasce, quando este se põe.
Tu tens o teu olhar de matéria nobre e ainda o do artista esculpido em ti.
Quantos mundos vês tu?
Conta-me e rasga os meus horizontes.

 

QUIETUDE



 
Até que os dias pequenos retornem e os olhos se pesem pelo frio que sopra, a inocência dos momentos irá diluir-se com a brisa que já se vai sentindo pela hora do lobo.
Raiam-se no céu os violetas e rosas e a nostalgia dos minutos capta o silêncio das cigarras interrompidas pela mudança dos verdes enquanto o olhar vagueia à procura do sol do riso, do sal do namoro da pele bronzeada. Os olhos azulam-se pelas memórias de tantas estações passadas quantas as águas olhadas no marulhar do horizonte.
Querer ver além.
Apontar o futuro e querer estar lá, trazer na bagagem o olhar das saudades.
 
 

PALAVRAS VERDADEIRAS



 
Há já algum tempo que me desinteressei do que dizem os homens. A verdade esconde-se. É como um caramelo que se molda aos cantos da boca, dos dentes, que se cola e se disfarça enquanto se conversa, vai adoçando o pior dos temas e faz suportar o mais enfadonho dos interlocutores. Mas temo o olhar. Desse não há perdão. Por muitos ensaios e truques, um dia trai-nos e cai a máscara. Não engana. Ou se enfrenta ou se desvia para não mentir. Suponho que seja por isso que cerram os olhos aos que partem. Para que não se lhes descubra a verdadeira essência e se guarde deles uma imagem [quase] perfeita do que foram.

APRENDER A DIZER




Que importa agora o tempo se tudo o que conta é o momento em que o teu olhar poisa e leva o meu, sem pedir licença e sem retorno e soletra mais cem anos de amor num piscar?