UM ANO A OLHAR


Um ano após ainda procuro o olhar. Qual o certo, o certeiro, o justo, o precisado. Não sei. Não faz mal. Antes saber que do sal há tantos prismas quanto a vontade de acordar e fazer do (meu) mundo emoção bastante para o descrever.

O SAL DO LEMBRAR


De todas as lembranças que carrego na minha vida, para além das palavras, restaram os olhos. Não me recordo muito bem de alguns rostos, mãos, altura e até timbre da voz, mas mantenho fresco o olhar com que me pediram e deram. E eu dei e também pedi.
Se calhar só me lembro mesmo do olhar dos que me pediram e deram e daqueles a quem ofereci e gritei por ajuda. Mas desses a memória é tão brilhante que lhes sinto o sal das lágrimas.

ALTURAS



SE O MEU OLHAR FOSSE MAIS ALTO TALVEZ EU PUDESSE SER CÉU

REFLEXOS



-Olá!

-Olá!

-Gosto tanto de ti.

-Hum... Eu também.

PICTURES IN MY HEAD


A tesoura dos olhos recortou cuidadosamente o que interessava e tornou desperdicio todo o resto, um sobejo de cenário perfeitamente dispensável. Detalhista, fotografou na câmara escura da memória a imagem relevada que acidentou o restante armazenamento do que era recheio. Pelos olhos entraram, pelos olhos se lavaram como se faz ao garimpo do ouro, pelos olhos falarão sempre que se lembrar do que viu.

MAURICE



Talvez não vejas nada do que se passa aqui ou então e exactamente por isso vejas tudo e consigas almejar outros planaltos para os quais sou cega. Talvez a dureza dos teus olhos esteja no diamante com que fazes brilhar acordes e passos e tempo ou então sou apenas eu que te admiro de paixão e os quero ver assim para te manter como deus da minha arte. Talvez sejas apenas um homem e os teus olhos já tenham doído tanto de tanto querer dar que a mulher que eu sou, sou-o mais quando te observo. E aprendo.

ELIZABETH


Mais que tudo vendía o olhar. Um tom quase assustado como um fontanário onde puseram lá peixes a endoidecer das voltas sem outra saída, águas turvas de verde lodo ou chuvas pesadas de céus que se abrem para lavar o mundo. Olhava como se fotografasse e não eram os seus que ficavam com a imagem aprisionada. Era muito mais de quem a fitava.

BUH!!!


AI QUE SUSTO!!!

DISCURSO DIRECTO



Terrivelmente barulhento, uma convulsão de exclamações que se desenvolvíam rápido, esclarecedoras, certeiras ao receptor, sem dúbios sentidos, um discurso no directo interesse de se dizer exactamente aquilo que se quer dizer e fazer-se entender na brutalidade do verbo que não tem outro significado.


A boca esteve sempre selada.


Os olhos é que provocavam todo aquele ruído. O público bateu palmas. De olhos fechados. Ensurdecidos por tanto dizer.

1/2



Metade do meu rosto o todo do teu.
Metade de mim é a outra de ti.
Meia de um inteiro que escondo no sorriso que te provoco.
Meia de um mistério que só tu podes descobrir na metade resguardada.