
Salgo-te o gosto de olhar a vida
ver...
Estatelo-me neste filme aquoso de me passar para outra dimensão em que penetro corpo para além da liquidez dos sentidos. Aproximo essências até segregar fluidos de mim mesma no entendimento do que sou. Faz-me doer. Especialmente quando me olho nos olhos e na vertigem do reflexo vejo outras almas que não a minha. E no entanto só a minha cá mora, reconheço-lhe o perfil, as manias, as tendências de me atravessar para qualquer outro lado ao escusar-me ser vista como os demais. Os demais são o que os olhos vêem. Por isso não me quero ver.
Sentía-se fumegar a terra a brotar noutras vidas, um cortejo que acompanhava o ritual na nobreza do momento alongado. Logo de seguida um som de casca a estalar, era chegada a altura dela se espreguiçar na plenitude do seu acto.
Por vezes chorava, emocionava-se. Muitos acorríam a esses pingos cristalinos e mágicos que dobravam o tamanho das coisas, sabíam do instante, tão lentamente aparecía tão rápido se escapava à vista dos outros.
Logo, logo o dia substituiría a bela madrugada e desse relance poucos se recordaríam.
Era vaidade o que lhe maquilhava os cilios, profunda, quente, e nem por um momento o fotógrafo lhe desviou os olhos com o medo de perder o exclusivo de enquadrar na chapa um fogo rubro que o electrizava.
Ela de pose. Deixava-se ceder na longilínea arte de perfil.
Ele apurou o olho aberto, o outro ocupado no diafragma, uma pequena explosão de luz cega.
Foi quando ela o olhou e ele se sentiu fulminado a sépia.
Chora em mim a emoção contida que me verte para dentro