Todos os dias rasgo janelas às minhas manhãs. É como abrir o peito, a vontade, o braço empunhando os sentidos. Gosto de as escancarar, avistá-las de longe no dominio da paisagem ardente ao novo sol ou da chuva que veio lavar o mundo. Gosto de as observar nos detalhes, na coisa perdida como se não pertencesse ao enquadramento, achá-la simples por parecer que não faz falta, encontrar-lhe um antes e um depois.
Há sempre um antes das janelas abertas, da voz que se cala, dos olhos que se fecham à maldade, da violência da solidão.
Há sempre um depois das janelas abertas, o som do coração, a boca que pede palavras, o poema do poeta.
Todos os dias rasgo janelas. Só assim me posso querer, só assim posso acreditar.
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