OLHAR E OLHAR ATRAVÉS

 


Era mais que um par de olhos, acabavam por ser dois olhares no fundo.
Aqueles que olhavam e os que vendo, satisfaziam uma aguada curiosidade que desta forma acabavam por se transformar noutros, um olhar diferente.
Os primeiros eram quase inocentes, perscrutantes, indagadores de uma novidade a apreender.
Quando piscaram e atingiram o objecto do seu desejo tornaram-se policiais, julgadores, quiçá um lampejo de vingança. Ou de alivio? Ou de riso?
Mas sempre críticos.

MARIA ZANAGA

 


Chamavam-lhe Maria Zanaga. Ela aceitara desde menina como predicado aos feitos que já tinham deitado fama por terras para além do seu pedaço, não lhe achava cunho de troça e respondia ao baptismo do povo. Sequer se lembrava do nome que sua mãe lhe havia posto, era Zanaga quando acudia e sempre Maria por ser mulher. Via tudo o que os outros de olhos bem direitos também viam e mais de vista tinha ela dentro de si, que além de Zanaga era bruxa das almas, curava muita dor antes que outrém a adivinhasse.

OLHA QUE NÃO!

 


Disse não e voltou a repetir e como se não fosse bastante, as mãos agitaram-se ao compasso da negativa afirmação.
 
Que não!
 
Gritou então vigorosamente, mas já a raiva lhe atingira o olhar e era neste que melhor se lía o que os lábios antes haviam proferido e não parecia ter sido escutado. Agora o brilho frio dos olhos sublinhava a decisão sem qualquer evasiva, não era mesmo não e sem qualquer hipótese ao interlocutor calou a boca e apenas o olhou fixamente.

A VER

 

 
De um outro ângulo, um outro alto, um outro Ano.
A ver se olho mais e se no alcançado a mira aponta ao coração.
Que nem sempre de olhos muito abertos se vê tudo e o que mais está à vista é na maior das vezes, o olho cego.