QUIETUDE



 
Até que os dias pequenos retornem e os olhos se pesem pelo frio que sopra, a inocência dos momentos irá diluir-se com a brisa que já se vai sentindo pela hora do lobo.
Raiam-se no céu os violetas e rosas e a nostalgia dos minutos capta o silêncio das cigarras interrompidas pela mudança dos verdes enquanto o olhar vagueia à procura do sol do riso, do sal do namoro da pele bronzeada. Os olhos azulam-se pelas memórias de tantas estações passadas quantas as águas olhadas no marulhar do horizonte.
Querer ver além.
Apontar o futuro e querer estar lá, trazer na bagagem o olhar das saudades.
 
 

PALAVRAS VERDADEIRAS



 
Há já algum tempo que me desinteressei do que dizem os homens. A verdade esconde-se. É como um caramelo que se molda aos cantos da boca, dos dentes, que se cola e se disfarça enquanto se conversa, vai adoçando o pior dos temas e faz suportar o mais enfadonho dos interlocutores. Mas temo o olhar. Desse não há perdão. Por muitos ensaios e truques, um dia trai-nos e cai a máscara. Não engana. Ou se enfrenta ou se desvia para não mentir. Suponho que seja por isso que cerram os olhos aos que partem. Para que não se lhes descubra a verdadeira essência e se guarde deles uma imagem [quase] perfeita do que foram.

APRENDER A DIZER




Que importa agora o tempo se tudo o que conta é o momento em que o teu olhar poisa e leva o meu, sem pedir licença e sem retorno e soletra mais cem anos de amor num piscar?